E assim teremos paz
Por: Denise Alves
Respondeu Jesus: Então agora vocês creem? Mas chegará o
tempo e já é agora, em que vocês serão espalhados cada um
para sua casa; vocês me deixarão sozinho. […] Eu falei tudo
isso para que tenham paz em mim. (João 16.31-33)
Depois de caminhar com Jesus por quase três anos os discípulos finalmente fazem a tão
esperada declaração: “Por isso nós cremos que o Senhor veio de Deus”. Ao que Jesus responde sem
entusiasmo algum: “Tem certeza disso?” foi o que ele quis dizer com os versículos acima.
Essa passagem lembra outra narrada com Pedro: “Se todos os outros abandonarem o
Senhor, eu não o abandonarei.” Ao que Jesus respondeu: “A verdade é que esta noite mesmo, antes
que o galo cante, você me negará três vezes” (Mateus 26.33-34). Porque? “pois o espírito na
verdade está pronto, mas a carne é fraca”. (Mt. 26. 41)
Esse é um dos atributos de Deus: Onisciência. Ele conhece o futuro como se passado
fosse: “Tu sabes o que vou dizer antes mesmo da palavra ser formada em minha boca” (Sl. 139.4), e
isso inclui conhecer quem nós somos de fato. Melhor do que nós mesmos, como declara Davi:
“Pois ele sabe bem do que somos formados; Ele sabe que somos pó” (Sl. 103.14).
Dentro da compreensão do Deus do Pentateuco até aqui não há nenhuma novidade.
Temos o argumento básico de Deus é Onisciente, grande e Poderoso em contraposição a serem
humanos limitados, pequenos e falhos. Dessa forma, é a declaração final de Jesus que choca: “Eu
falei tudo isso para que tenhais paz em mim” (Jo. 16.33).
O que ele de fato está dizendo é: “Eu sei quem você é e não lhe condeno por isso”.
Essa compreensão gera paz.
Demorei um bom tempo para entender isso, mas quando descobri que Deus me conhece
melhor do que eu mesma, que sabe quais serão as minhas decisões antes mesmo que as faça, e
mesmo assim continua ao meu lado, eu senti paz, pude relaxar.
Porque? Porque não preciso de máscara, não preciso tentar ser algo que não sou, porque
pelo bem do argumento, “Não há nada que se possa esconder de Deus. Cada coisa a respeito de nós
está descoberta e escancarada aos olhos penetrantes do nosso Deus vivente” (Hb 4.13). Não
precisamos estar 'caiados' como os sepulcros do Fariseus, porque isso seria hipocrisia e essa foi a
maior barreira encontrada por Jesus durante seu ministério terreno.O que Jesus tentava deixar claro para seus discípulos, pra mim e pra você é que ele bem
nos conhece e sabe quando tentando acertar, erraremos; tentando encontrar, nos perderemos; com
todas as boas intenções do mundo, não estamos prontos para o desafio. Mas que, acima de toda essa
humanidade, não há motivos para frustração.
Jesus não ficou frustrado com Pedro quando ele o negou, porque ele já sabia. Nem ficou
frustrado com os discípulos quando estes tiveram medo da guarda romana e fugiram, Ele os
conhecia. Tampouco fica frustrado com nossas falhas cotidianas. Nossas fracassadas tentativas de
acertar, Ele sabe quem somos.
Isso significa que Ele não espera nada de nós? Muito pelo contrário, ele exige algo
grande, surpreendente, essencial – para mim trata-se de um salto imprescindível na vida cristã: que
confiemos Nele e no seu amor. Um amor que não está condicionado a acertos, sucesso, aplausos.
Não está atrelado a quantos cultos frequentamos, nem quantas obras de caridade praticamos. Não
somos mais ou menos amados por Deus quando falhamos.
Na verdade são exatamente as falhas que nos atraem a ele, que denunciam nossa
necessidade Dele, que indicam quão carentes somos. “Meu propósito é convidar os pecadores ao
arrependimento e não aqueles que se acham muito justos” (Lucas 5.32). “Porque aquele que vem a
mim de maneira alguma o lançarei fora”(Jo 6.37).
O que ele mais deseja é que sejamos loucos o bastante para confiarmos em seu amor, só
no seu amor, e não em nossa capacidade de agradá-lo, não nas nossas obra de justiça, não nos
posicionamentos corretos, porque um dia, mais cedo ou mais tarde não corresponderemos as nossas
próprias expectativas e nesse dia precisaremos confiar no seu amor incondicional por nós, pois “No
amor não existe medo. Seu perfeito amor por nós afasta todo medo. Se estamos com medo é porque
tememos o seu castigo e isso mostra que não estamos completamente convencidos que ele
realmente nos ama”(1 Jo 4.18).
Assim, no final, ele não vai apontar o dedo dizendo: eu não disse! Nem lhe bombardear
com uma série de acusações sobre sua falta de fé. Na verdade, o que o Deus do Novo Testamento
mostra é que a única pergunta realmente importante que precisamos responder é a que Ele fez a
Pedro: “Tu me amas?” (Jo 21.16). E assim teremos paz.
